Joelma Gomes Ferreira

Sou mulher negra, quilombola, urbanista, mestra em estudos territoriais, resido no Recôncavo Baiano, especificamente em Acupe, território ancestral. Luto pela demarcação e preservação do território pesqueiro e quilombola. Coordeno o coletivo Rainhas do Mar, que atua na promoção da autonomia financeira para mulheres marisqueiras e produtoras rurais. Além de atuar como articuladora cultural e fotógrafa por amor.

Floresta: território sagrado

A floresta, enquanto território sagrado, é também cordão umbilical que nutre os corpos e, dialeticamente, territorializa e é territorializada.

Floresta: território sagrado é uma mostra de fotografias que expõem a territorialidade dos povos de santos na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, a partir dos ebós arriados no entorno e dentro desse território. A representatividade dos mesmos, demarcada nesta área geográfica,  coloca em visibilidade o sentimento de pertencimento, a crença religiosa, a estratégia de salvaguardar práticas ancestrais e a experiência de lugar que entrelaça o vivido, o simbólico, o individual e o coletivo. 

Para os povos de santos e povos originários, a floresta é um território sagrado, habitat das  divindades NKisese, Yuxibu, Orixás e Voduns. Morada da energia que alimenta o corpo e o  espírito. Um ecossistema de vidas e da imaterialidade, que guarda os segredos inscritos em  diferentes tempos, linguagens, plantas e essências. Por esses motivos é que ali se deposita o axé, a fé, a busca do equilíbrio, do eu e, sobretudo, do nós ao mais próximo da natureza. 

Este olhar para as territorialidades dos ebós em tempos de intolerância religiosa, tão incisiva, é  um ato político. Um ato de resistência que representa o direito à liberdade religiosa afro-brasileira e o direito ao uso da floresta para fins ritualísticos. Tais práticas são de suma importância para unir o material e a imaterialidade, além de permitirem a transferência de saberes, a construção de memórias, conhecimentos e cultura sob o protagonismo do povo negro.

A floresta, enquanto território sagrado, é também cordão umbilical que nutre os corpos e, dialeticamente, territorializa e é territorializada. 

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