O amor ilumina seu próprio caminho

Instalação com animações

Intitulado Guiança, o corpo de trabalhos apresentados na exposição Início, meio, início nasce da minha fascinação pela ideia de me guiar através de estrelas. Como uma mulher nascida e criada em contextos urbanos da atualidade, orientações que diferem do “vire a segunda à direita” me fazem refletir sobre como me direcionar fora de ruas asfaltadas. 

É curioso pensar que a humanidade é anterior aos mapas/GPS e que outras inteligências podem, são e foram forjadas para responder a condições de vida diferentes da minha. Há de se observar que meu interesse se dá tanto em relação à guiança no sentido literal, quanto no nível subjetivo, de tomada de decisões a respeito do universo interior de cada um.

Tendo em vista essa curiosidade, devo dizer que a história da abolicionista afro-americana Harriet Tubman, bem como a minha vivência particular com a astrologia, foram os principais motores para o meu interesse.

Foi através dos livros de Octavia Butler que eu entrei em contato com a figura histórica de Harriet Tubman. Conhecida por ter conduzido centenas de pessoas escravizadas no sul dos Estados Unidos até o norte, onde eles poderiam viver em liberdade, Tubman é o tipo de personalidade que carrega em torno de si um mix de dados factuais acrescidos de informações fantasiosas/místicas.

Nascida ainda escravizada, ela sempre teve uma saúde frágil. Já adulta, um golpe brutal em sua cabeça, a fez desenvolver uma condição neurológica severa hoje conhecida como hipersonia – resumidamente, uma irrefreável sonolência. Através do sono descontrolado, Tubman começou a planejar sua própria fuga em sonhos vívidos, tendo como base a estrela  Polar Norte. Nesse sentido, é fundamental observar que Harriet, um ícone da luta contra escravidão nos EUA, era também uma pessoa com desabilidades, uma mulher neuroatípica. 

A princípio, minha ideia era criar uma realidade virtual tratando do assunto. No entanto, com o desenvolvimento da residência, fui compreendendo que, dentro da nossa exposição, interessava mais apresentar as ideias em outros suportes, enquanto a ideia da realidade virtual entraria novamente em fase de captação. Dessa forma,o título Guiança diz respeito tanto à realidade virtual em si, quanto à série de pinturas, esculturas e instalações investigando estrelas, céu, saúde, doença, estados alterados de consciência e sonhos.

Tratando dos aspectos visuais, são caros a esse trabalho os desenhos japoneses do sub gênero maho shoujo (garota mágica, em tradução livre); os mapas de céu e suas representações pictóricas através dos séculos; as pesquisas sobre persistência da retina realizadas pelo matemático belga Joseph Plateau e sua criação, o fenacistoscópio.

O Mahoujin de Harriet

Animação digital

Crescente: uma releitura do "Nebra Sky Disk"

Cerâmica

Quando penso o céu, falo da passagem do tempo

Acrílica sobre tela