Poda da bananeira, colheita do feijão e da cúrcuma, reflorestamento da vida em todos os seus mínimos aspectos. O “bom dia” de cada manhã tinha cheirinho de café recém-torrado. Queima dos incensos de camomila com casca de tangerina. Tempurá de folhas e acarajé. Axé. Fermentação do pão, do kimchi, da cerveja invisível, dos afetos momentâneos. A inesperada queda das formigas. A ascensão das espécies companheiras até o topo das montanhas. O sono das nuvens. Lá repousamos.
A pesquisa que levei à Residência Cidade Floresta surge de questionamentos pessoais acerca do tempo do sono, do descanso e da paradoxal letargia que acomete nossas forças vitais na cidade: burn out, ansiedade, crises de pânico, insônia, depressão, alguns dos sintomas característicos das “sociedades de cansaço” que, segundo o filósofo Byung Chul-Han, cultuam uma hipervalorização da produtividade e da noção de progresso.
Diante do esgotamento que afeta nossas potências de ser, estar e agir no mundo, como estabelecer pequenas tréguas ao sistema, isto é, conceder mais tempo ao tempo das coisas: à cicatrização da ferida, à maturação da semente, à recuperação do solo devastado, à resiliência ante o luto?